segunda-feira, 9 de julho de 2012

coerência e coesão: pescando atividades

Prefeitura Municipal de Patos de Minas
Secretaria Municipal de Educação de Patos de Minas
CEC- Centro de Estudos Continuados “Marluce Martins de Oliveira Scher”

COERÊNCIA E COESÃO
PROPOSTAS DE ATIVIDADES

MEDIADORA: Lourdes Vinhal

PROPOSTA de atividade 01

A incapacidade de ser verdadeiro

Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo dois Dragões da independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas.
A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte, ele veio contando que caíra no pátio da escola um pedaço de lua, todo cheio de buraquinhos, feito queijo, e ele provou e tinha gosto de queijo. Desta vez, Paulo não só ficou sem sobremesa como foi proibido de jogar futebol durante quinze dias.
Quando o menino voltou falando que todas as borboletas da Terra passaram pela chácara de Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador para transportá-lo ao sétimo céu, a mãe decidiu levá-lo ao médico. Após o exame, o Dr. Epaminondas abanou a cabeça:
__Não há nada a fazer, Dona Coló. Este menino é mesmo um caso de poesia.
     
     ANDRADE, Carlos Drummond de. A cor de cada um. Rio de Janeiro, Ed. Record,1998.

                            Disponível no site: http://clatuveratanictu.blogspot.com/2005/05/incapacidade-de-ser-verdadeiro.html
                                                                    
Questões para direcionar a análise do texto. Estas questões poderão ser respondidas no caderno e o professor deverá corrigi-las, auxiliando o aluno em suas dificuldades.

1. Observe os termos em destaque no texto.
a. A que se referem os pronomes o e ele no segundo parágrafo?
b. Reescreva o trecho abaixo, substituindo os pronomes destacados pelo referente já mencionado no texto:
“A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte ele veio contando que caíra no pátio...”
c. Conclua: qual é a função dos pronomes e a sua importância na construção do texto?

2. Observe: “... um pedaço de lua, todo cheio de buraquinhos...”
a. Que palavra está sendo modificada pelo adjetivo cheio?
b. Conclua: A concordância é um mecanismo de coesão textual? Explique.

3. As conjunções também são responsáveis pela conexão entre partes do texto, possibilitando que se dê continuidade às ideias apresentadas.
Explique que relações são expressas por estes elementos nos trechos seguintes, retirados do texto.
a.“Quando o menino voltou [...]a mãe decidiu levá-lo ao médico”.
b.“Desta vez, Paulo não só ficou sem sobremesa como foi proibido de jogar futebol durante quinze dias.”
c. “A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte ele veio contando que caíra no pátio da escola um pedaço de lua..."
4. O emprego de sinônimos também é um recurso para o estabelecimento da coesão textual. Essa afirmação pode ser exemplificada na frase seguinte? Explique.
“Quando o menino voltou falando que todas as borboletas da Terra passaram...”

5. Observe o emprego do artigo:
Um dia chegou em casa...”; “Quando o menino voltou...”; “A mãe botou-o de castigo...”
Responda: Em que sentido os artigos (definidos e indefinidos) podem concorrer para a coesão de um texto?

6. Explique o emprego do pronome demonstrativo este, no trecho seguinte:
“__Não há nada a fazer, Dona Coló. Este menino é mesmo um caso de poesia.”

7. Comente a afirmação seguinte:
Em relação à coerência, isto é, à manutenção da mesma referência temática, pode-se afirmar que o texto “A incapacidade de ser verdadeiro” apresenta-se coerente a partir do título.

8. Assinale a(s) afirmação(ões) verdadeira(s).
Em relação à coerência pode se dizer que o texto apresenta:
a. (   ) harmonia de sentido em decorrência da conexão estabelecida entre as partes.
b. (   ) expõe uma informação nova.
c. (   ) não apresenta contradições entre as ideias.
d. (   ) apresentar um ponto de vista, uma nova visão de mundo.


PROPOSTA de atividade 02

Observe o processo linguístico que a interpretação de um elemento expresso no texto remete a outro que já foi utilizado para construir o texto.

                       Governo do Amazonas anuncia criação de novas áreas de preservação
                                   FOLHAonline, 05/09/2003, KÁTIA BRASIL da Agência Folha, em Manaus

O governo do Amazonas anunciou hoje a criação de seis novas áreas de preservação ambiental no Estado. São 4,2 milhões de hectares transformados em parque, floresta estadual, reservas extrativistas e de desenvolvimento sustentável.
As regiões onde se situam essas áreas são ricas em biodiversidade e ambiente natural de espécies em extinção, como o peixe-boi, a ariranha e boto tucuxi.
O secretário de Estado do Meio Ambiente disse que com as seis novas áreas, o governo aumenta para 12,2 milhões de hectares o total de áreas protegidas na esfera estadual.
"O fato de nós termos 98,2 % da cobertura vegetal intacta não significa que vá ficar assim eternamente. Estamos evitando que o desmatamento chegue a essa área, que é o coração da Amazônia."
"Essas reservas possibilitam a permanência das populações tradicionais e ao mesmo tempo a conservação da natureza, isso é responsabilidade social", disse o secretário.

Agora, complete o quadro,  relacionando o que foi sublinhado aos elementos a que se referem e que aparecem antes. Com isso, comprovamos que a interpretação de um elemento no texto depende da interpretação de outro(s) elementos(s).

Elementos sublinhados no texto
Elementos a que se referem, citados antes
1.            

2.            

3.            

4.            

5.            

6.            

7.            

8.            

9.            

10.        



Muitas vezes, antecipamos algo que será explicitado depois. Circule os elementos a que se referem o que foi sublinhado.
a-      Escreva o que estou lhe dizendo: ela não vai conseguir chegar a tempo.

b-      Eles são tão finos que mal podem ser vistos a olho nu, mas tecer esses fios é natural para as aranhas.


PROPOSTA de atividade 03

O professor deverá propor aos alunos, em grupo de três pessoas, que realizem a análise do texto, “Maneiras de amar” de Carlos Drummond de Andrade, explorando os mecanismos responsáveis pelo estabelecimento da coesão e da coerência.
Para direcionar o trabalho dos alunos, o professor deverá destacar termos e expressões no texto a serem analisados.
Por exemplo, sublinhe jardineiro e questione os alunos sobre quais os outros elementos que se referem ao sublinhado; pode também circular flores e analisar todos os outros elementos que se referem à palavra circulada.

Maneiras de amar
(Carlos Drummond de Andrade)

O jardineiro conversava com as flores, e elas se habituaram ao diálogo. Passava manhãs contando coisas a uma cravina ou escutando o que lhe confiava um gerânio. O girassol não ia muito com sua cara, ou porque não fosse homem bonito, ou porque os girassóis são orgulhosos de natureza.
Em vão, o jardineiro tentava captar-lhe as graças, pois o girassol chegava a voltar-se contra a luz para não ver o rosto que lhe sorria. Era uma situação bastante embaraçosa, que as outras flores não comentavam. Nunca, entretanto, o jardineiro deixou de regar o pé de girassol e de renovar-lhe a terra, na ocasião devida.
O dono do jardim achou que seu empregado perdia muito tempo parado diante dos canteiros, aparentemente não fazendo coisa alguma. E mandou-o embora, depois de assinar a carteira de trabalho dele.
Depois que o jardineiro saiu, as flores ficaram tristes e censuravam-se porque não tinham induzido o girassol a mudar de atitude. A mais triste de todas era o girassol, que não se conformava com a ausência do homem. "Você o tratava mal, agora está arrependido?" "Não", respondeu "estou triste porque agora não posso tratá-lo mal. É a minha maneira de amar, ele sabia disso e gostava".


                                                         

PROPOSTA de atividade 04

Uma pessoa está sendo acusada de homicídio. Ao ser presa, faz a seguinte declaração:
“Podem acusar-me: estou com a consciência tranqüila”.
Os dois pontos poderiam ser substituídos por uma conjunção, o que foi feito nas frases abaixo. Selecione aquelas que você acha que fazem sentido, levando em consideração o contexto em que ela foi dita e tentando justificar suas escolhas.
a)Podem acusar-me, porque estou com a consciência tranquila.
b) Podem acusar-me, mas estou com a consciência tranquila.
c) Podem acusar-me, portanto estou com a consciência tranquila.
d) Podem acusar-me, e estou com a consciência tranquila.
e) Podem acusar-me, ou estou com a consciência tranquila.

PROPOSTA de atividade 05


           Oi, Dinho!
Tudo bem? Como está aí, já se acostumou? Estou com saudades. Não te mandei nada por e-mail porque estou sem internet, mas assim que der eu mando algo, viu? E aí, estudando muito? Aqui tá bem puxado, mas estou amando o curso. Estou tendo muitos trabalhos para fazer, mas os resultados têm me deixado feliz! Cada vez tenho mais certeza de que era este o meu “destino”.
E os três reis magos? Ainda se falam? Eu fiquei sabendo de cada história das férias... é verdade o que falaram sobre a barraquinha de churros? Olhe lá, hein!
Pode ter certeza de que todos aqui estão sentindo tua falta... Você vem pra cá no feriado? Se vier nos avise para podermos nos ver. Agora que você e a Nica foram embora, sobraram poucas pessoas para bater um papo um pouco mais interessante... Só consigo isto com o Juan e com o Roger. Pois é, eu continuo com o cara dos três sax e estamos nos dando super bem!
Falando da Nica, ela foi chamada na federal, mas resolveu ficar mesmo. Ela já está instalada lá, trabalhando, fazendo música. Além disso, os pais dela não querem ela aqui. Ligue para ela qualquer dia!
Você não sabe o que me aconteceu ontem! Eu caí de bicicleta naquela avenida em frente a minha casa, aquela que tem uma cratera gigantesca e cheia de ônibus! Ainda bem que eu caí na calçada e só ralei o joelho e as mãos.
Bom, eu vou parando por aqui... Vê se não esquece das amizades, OK?
Beijos da amiga,
Jana
a) Ao ler esta carta, você pode ter sentido algumas dificuldades para compreendê-la. A que se devem essas dificuldades?
b) Você acha que Dinho, o destinatário da carta, compartilha das mesmas dificuldades de leitura que você? Por quê?
c) Pode-se observar que, no trecho em destaque, há um problema de ambiguidade. Qual é essa ambiguidade e de que modo o trecho poderia ser reescrito a fim de sanar esse problema?

PROPOSTA de atividade 06

Junte os pares de orações abaixo, de tal forma que entre elas se estabeleça a relação indicada. Faça as alterações que forem necessárias.
Relação de concessão                           a) Seu projeto foi recusado.
                                                              b) As explicações foram convincentes.

Relação de finalidade                            a) Resolvemos ficar em casa.
                                                               b) Assim poderíamos descansar.

Relação de concessão                            a) Houve vários imprevistos durante a viagem.
                                                               b) Tudo foi cuidadosamente planejado.

Relação de proporção                            a) Ele crescia.
                                                               b) Ele ficava mais magro.

Relação de tempo                                   a) Meus amigos vieram visitar-me.
                                                                b) Cheguei de viagem.

Relação de comparação                          a) Ele era estudioso.
                                                                b) Todos os outros alunos da turma eram estudiosos.


pROPOSTA de atividade 07

 Reescreva os trechos fazendo a devida coesão. Utilize artigos, pronomes ou advérbios. Não se esqueça de que a elipse (omissão de um termo) também é um mecanismo de coesão.
1. A gravata do uniforme de Pedro está velha e surrada. A minha gravata está novinha em folha.
2. Ontem fui conhecer o novo apartamento do Tiago. Tiago comprou o apartamento com o dinheiro recebido do jornal.
3. Perto da estação havia um pequeno restaurante. No restaurante costumavam reunir-se os trabalhadores da ferrovia.
4. No quintal, as crianças brincavam. O prédio vizinho estava em construção. Os carros passavam buzinando. As brincadeiras, o barulho da construção e das buzinas tiravam-me a concentração no trabalho que eu estava fazendo.
5. Os convidados chegaram atrasados. Os convidados tinham errado o caminho e custaram a encontrar alguém que orientasse o caminho aos convidados.
6. Os candidatos foram convocados por edital. Os candidatos deverão apresentar-se, munidos de documentos, até o dia 24.

PROPOSTA de atividade 08
 Use os pronomes adequados.
1. Um encapuzado atravessou a praça e sumiu ao longe. Que vulto era __________ a vagar, altas horas da noite, pela rua deserta?
2. Jorge teria dinheiro, muito dinheiro, carros de luxo e mulheres belíssimas. __________ eram as fantasias que passavam pela mente de Jorge enquanto se dirigia para o primeiro treino na seleção.
3. Marcelo será promovido, mas terá de aposentar-se logo a seguir. Foi ________ que me revelou um amigo do diretor.
4. Todos pensam que a CPI acabará em pizza, mas não queremos acreditar _________.
5. Trabalham juntos, num escritório de advocacia, Luís e Paulo. __________ dedica-se a causas criminais, ______________ a questões tributárias.
6. Soube que você irá ocupar um alto cargo na empresa e que está de mudança para uma casa mais próxima do seu local de trabalho. Se ___________ me chateou, já que somos vizinhos há tantos anos, _____________ me deixou muito contente.

PROPOSTA de atividade 09

Restaure a coesão nas sentenças:
1. Um homem caminhava pela rua deserta: esfarrapado, cabisbaixo, faminto, abandonado à própria sorte. ___________ parecia não notar a chuva fina que caía e ___________ encharcava os ossos.
2. Os grevistas paralisaram todas as atividades da fábrica. __________ durou uma semana.
3. Vimos o carro do ministro aproximar-se. Alguns minutos depois, __________ estacionava no pátio do Palácio do Governo.
4. Imagina-se que existam outros planetas habitados. ____________ tem ocupado a mente dos cientistas desde que os OVNIS começaram a ser avistados.
5. O presidente americano disse: “Quem é favorável ao Eixo do Mal estará contra mim.” ___________ marcou uma etapa nas relações internacionais.

PROPOSTA de atividade 10

Levar para a sala de aula uma cuia, uma agulha e dois palitinhos, ou escrever o nome desses elementos no quadro. Propor a escrita de contos em que aparecem os equipamentos citados. Lembrando as características de um conto, os objetivos da escrita, como serão publicados, a importância do título, os parágrafos, coerência e coesão, marcas próprias do gênero discursivo...
Propor também a autoavaliação, conforme quadro a seguir, antes da reescrita e apresentação do texto.


                     AUTOAVALIAÇÃO


SIM

NÂO
1.      Caracterizei as personagens de forma adequada?


2.      Criei um conflito para a personagem?


3.      Solucionei o conflito e finalizei a história?


4.      As ideias foram desenvolvidas com clareza?


5.      Criei um título para o conto?


6.      Escrevi as palavras corretamente?
























PROPOSTA de atividade 11

Apresentar o conto Pequetito, por parágrafo, possibilitando pré-leitura, levantamento de hipóteses, inferências, leitura compartilhada. Propor escrita de contos e depois publicar um livro da turma.


PEQUETITO

Era uma vez um casal que só depois de muito esperar e pedir aos deuses conseguiu ter um filho. O menino nasceu com saúde e era bem bonito, mas nunca cresceu,  por isso recebeu o nome de Pequetito. Quando chegou a hora de mandá-lo conhecer o mundo, seus pais lhe deram uma agulha para servir de espada, uma cuia de comer arroz para ser seu barco e um par de palitos para fazer as vezes de remos. Assim equipado, Pequetito partiu, navegando até a capital, Quioto, onde foi ter ao casarão de uma família que se encantou com ele e o convidou para morar ali.
Um dia Pequetito viajou com a filha de seus anfitriões, uma linda jovem que gostava muito dele. No caminho um ogro os atacou, dizendo que queria raptar a moça. “Primeiro vai ter que lutar comigo!”, o corajoso rapaz exclamou, brandindo a agulha.
Então o ogro riu, agarrou-o e sem perda de tempo o engoliu.
Lá no estômago do ogro, Pequetito o espetou tanto com sua agulha que o malvado papão o cuspiu fora. Assim que se viu livre., o moço lhe furou os olhos com a agulha. O ogro gritou de dor e correu, deixando cair um pequeno objeto de metal. “É um martelo mágico que realiza desejos”, a jovem explicou.“Então me dê uma martelada, para ver se me faz crescer”, o rapaz falou. A filha de seus anfitriões lhe martelou a cabeça com toda a força…e Pequetito se transformou num samurai alto e garboso, com quem ela logo se casou.

PHILIP, N. Volta ao mundo em 52 histórias. São Paulo: Companhia das Letrinhas, p. 24.
Quioto, por vezes também grafado Kyoto no Brasil (em japonês: 京都市;) é uma cidade japonesa na província de mesmo nome no centro sul do país. Fundada no século I, foi a capital do Japão Imperial, sendo substituída por Tóquio em 1943.

PROPOSTA de atividade 12

                        JOGO: Quebra-cabeça

Crônica fatiada: Montagem de uma história, a partir de trechos recortados e embaralhados. Diversas variações são possíveis para atividade. Os trechos recortados podem, por exemplo, fazer parte de dois textos diferentes, o que aumenta o grau de dificuldade da atividade.

A equipe que terminar de montar o texto primeiro e corretamente será vencedora.

Mãe é fogo!


Bem, o meu Jason não queria ser juiz. Nem médico, nem engenheiro, nem professor. Queria ser bombeiro. Quando me anunciou sua decisão, fiquei desesperada. Mas ele me falou com tanto entusiasmo da profissão - chegou a imitar para mim o som da sirene do corpo de bombeiros - que tive de ceder. E aí lembrei que, desde criança, gostava de apagar fogo. Era um problema manter o fogão aceso. Jason ia lá e despejava um balde d'água em cima da chama. Churrasco, então, era coisa que nem se podia cogitar. Era   acender a churrasqueira e Jason já estava de mangueira em punho.
Mas então ele foi aceito no Corpo de Bombeiros da cidade. Parecia muito feliz, mas um dia veio me procurar, em prantos. O que foi?, perguntei aflita. Jason soluçava tanto que nem podia falar. Finalmente se acalmou e disse, numa voz sumida:
__Pouco incêndio...
            De imediato compreendi seu drama. Mount Shasta é uma cidade pequena, não tem muito o que incendiar. Pior: não há habitante que não tenha o seu extintor de incêndio. É uma coisa patológica, o temor deles é o fogo.
Fiquei consternada. Mas de imediato resolvi: aquele era o momento em que meu filho precisava de mim e eu não lhe falharia. Ele teria a minha ajuda pronta e incondicional. A ajuda que só uma mãe pode dar ao filho.
Mas... Ajuda em quê? Eu não podia andar pelas casas convencendo as pessoas a atirar cigarros acesos em cestas de lixo. Eu não podia roubar extintores. O que eu podia fazer - e confesso que estremeci quando a idéia me ocorreu - era arranjar uns incêndios para o meu filho.
Não seria fácil. Em primeiro lugar, tenho medo do fogo. Depois, tinha de avaliar cuidadosamente os incêndios que provocaria. Nem tão grandes que submetessem o meu Jason ao perigo, nem tão pequenos que ele os rejeitasse com desprezo. Tarefa espinhosa, portanto, mas o que não faz uma mãe quando está a ajudar o seu filho?
Devo dizer que me saí extremamente bem. Provoquei cinco incêndios, todos belíssimos, com muita chama, muita fumaça, muita gente ao redor. Em todos o meu Jason brilhou, o que me deu entusiasmo. Comecei a pensar em coisas realmente grandes - a municipalidade, quem sabe a Casa Branca, quem sabe o Capitólio. Foi aí que me prenderam.
Uma injustiça, como falei. Mas a minha carreira de mãe incendiária não está, de forma alguma, terminada. Os carcereiros que se cuidem. Prisão alguma é à prova de fogo.

(Moacyr Scliar. Folha de São Paulo – 15/08/1995)

                                                                 

Mãe é fogo!

Uma injustiça, como falei. Mas a minha carreira de mãe incendiária não está, de forma alguma, terminada. Os carcereiros que se cuidem. Prisão alguma é à prova de fogo.

O que tenho a dizer de minha condenação? É injusta, ora. A sentença mais injusta já proferida nos Estados Unidos. O mínimo que posso dizer desse juiz é que não conhece coração de mãe. Então não sabe que mãe tem de fazer tudo por seu filho? Será que a mãe desse senhor não se esforçou para que ele fosse juiz?

Mas... Ajuda em quê? Eu não podia andar pelas casas convencendo as pessoas a atirar cigarros acesos em cestas de lixo. Eu não podia roubar extintores. O que eu podia fazer - e confesso que estremeci quando a ideia me ocorreu - era arranjar uns incêndios para o meu filho.

Não seria fácil. Em primeiro lugar, tenho medo do fogo. Depois, tinha de avaliar cuidadosamente os incêndios que provocaria. Nem tão grandes que submetessem o meu Jason ao perigo, nem tão pequenos que ele os rejeitasse com desprezo. Tarefa espinhosa, portanto, mas o que não faz uma mãe quando está a ajudar o seu filho?
Devo dizer que me saí extremamente bem. Provoquei cinco incêndios, todos belíssimos, com muita chama, muita fumaça, muita gente ao redor. Em todos o meu Jason brilhou, o que me deu entusiasmo. Comecei a pensar em coisas realmente grandes __ a municipalidade, quem sabe a Casa Branca, quem sabe o Capitólio. Foi aí que me prenderam.

De imediato compreendi seu drama. Mount Shasta é uma cidade pequena, não tem muito o que incendiar. Pior: não há habitante que não tenha o seu extintor de incêndio. É uma coisa patológica, o temor deles é o fogo.

Mas então ele foi aceito no Corpo de Bombeiros da cidade. Parecia muito feliz, mas um dia veio me procurar, em prantos. O que foi?, perguntei aflita. Jason soluçava tanto que nem podia falar. Finalmente se acalmou e disse, numa voz sumida:
__ Pouco incêndio...

Fiquei consternada. Mas de imediato resolvi: aquele era o momento em que meu filho precisava de mim e eu não lhe falharia. Ele teria a minha ajuda pronta e incondicional. A ajuda que só uma mãe pode dar ao filho.

Bem, o meu Jason não queria ser juiz. Nem médico, nem engenheiro, nem professor. Queria ser bombeiro. Quando me anunciou sua decisão, fiquei desesperada. Mas ele me falou com tanto entusiasmo da profissão - chegou a imitar para mim o som da sirene do corpo de bombeiros __ que tive de ceder. E aí lembrei que, desde criança, gostava de apagar fogo. Era um problema manter o fogão aceso. Jason ia lá e despejava um balde d'água em cima da chama. Churrasco, então, era coisa que nem se podia cogitar. Era   acender a churrasqueira e Jason já estava de mangueira em punho.

(Moacyr Scliar. Folha de São Paulo – 15/08/1995)